O discreto charme de Menorca!

02/03/2018

MENORCA - Os habitantes costumam dizer que Menorca se resume a três palavras: água, fogo e pedra. Os três elementos essenciais da ilha espanhola estão reunidos em Cova d’en Xoroi, caverna natural que abriga um lounge encravado no meio de um penhasco. À medida que o sol mergulha no Mediterrâneo, encantando a clientela, ondas batem nas rochas de calcário clareadas pelo sol. Ao cair da noite os funcionários acendem tochas e o estonteante e descontraído mirante se transforma em um animado night club.

Embora a descrição da cena possa soar veranil como um frozen mojito, o programa se repete todas as noites também no outono, quando Menorca se mantém tão sedutora como na alta temporada. Até meados de outubro, ainda está quente o suficiente para se aproveitar praias espetaculares. A água fica morna até o outono, e após o verão paga-se a metade do preço cobrado por atividades como aluguel de barco com um capitão exclusivo. Apenas planeje-se e confira as condições climáticas — vento e temperatura — antes do passeio.

E há muito mais a descobrir nessa ilha além de sol e mar de águas cristalinas. Mahón e Ciutadella são cidades vibrantes e, nessa época, você poderá tê-las só para você.

Natureza preservada sem multidões


Menorca é a mais oriental das Ilhas Baleares, um arquipélago entre a Espanha e a Itália que inclui as mais famosas Maiorca e Ibiza. As três desfrutam de invejável clima ameno em cenário de cartão-postal, mas Menorca vem em um pacote sem multidões ou superfaturados night clubs. E conseguiu manter um estilo mais calmo e discreto, restringindo seu desenvolvimento a poucos resorts com prédios baixos.

Toda a ilha (de 700km²) foi declarada reserva da biosfera pela Unesco em 1993, e como resultado, a maior parte das 125 praias que contornam seu litoral tem muito pouco ou, até, nenhuma construção. Na costa sul, trilhas para caminhadas partem de estacionamentos e serpenteiam por barrancos arborizados até as praias. A fina areia branca de Cala Mitjana é cercada por penhascos, e a água calma e rasa torna mais fácil explorar caverna e rochedos de snorkel. No norte, Cala Cavalleria é mais fácil de chegar, mas não menos conservada.

HERANÇAS: GIM E TEMPLOS DE PEDRAS

Os fenícios chamavam de “Nura”, ou a Ilha do Fogo. A lenda diz que navegadores que passaram por ali viam as fogueiras acesas ao longo dos penhascos do sul, que originalmente os habitantes usavam para se comunicar. Resquícios desses primeiros colonizadores — tribos ibéricas que vinham do continente na Era do Bronze — ainda são visíveis em mais de dois mil monumentos de pedras espalhados pela ilha.

A sociedade talayótica deixou alguns templos, câmaras funerárias e monumentos que parecem versões menores de Stonehenge. A visita a alguns dos maiores aglomerados tem ingresso cobrado e guias, mas há muitos outros monumentos por lá que sequer são demarcados. Você pode tropeçar neles — que podem estar escondidos em grama alta — enquanto caminha por uma trilha. Reunidos, formam um dos maiores museus ao ar livre da Europa.

Os milênios que se seguiram trouxeram ainda mais visitantes e invasores, incluindo os gregos, mouros, franceses e catalães, mas nenhuma dessas culturas estrangeiras deixou marca mais duradoura que a britânica. Eles governaram a ilha intermitentemente durante o século XVIII e mudaram a capital, de Ciutadella, que havia sido fundada antes de os romanos chegarem, mas foi destruída no século XVI pelos turcos, para Mahón.

A herança inglesa é notada na arquitetura das casas de Mahón e no comércio ativo de gim. A destilaria de gim Xoriguer é um lugar legal para uma degustação antes do jantar em Mahón. E eu vi garrafas beach-friendly de frozen gim e limonada caseira regularmente à venda em uma sorveteria em Ciutadella.

Da fazenda à mesa


Embora as praias tenham toda a atenção, muito da economia de Menorca é agrícola, o que é evidenciado pelo fato de lá haver mais vacas que habitantes. Pequenas fazendas, separadas por muros de pedras secas, cobrem as montanhas acidentadas do interior, produzindo uma incrível variedade de frutas (40 tipos de maçãs, por exemplo), além de azeite, vinho e o delicioso queijo Mahón.

O queijo até chegou ao meu sorvete de casquinha servido pela Ambrosia, na capital — não como cheesecake, mas com nacos de queijo parecidos com o cheddar, misturados ao sorvete de baunilha. De alguma forma, deu certo.

A sensibilidade ecológica de Menorca se faz notar em restaurantes espetaculares em cidades que têm vista para portos naturais protegidos por fortalezas prontas para a batalha. Em Ciutadella, por exemplo, tente o Es Tast de na Silvia, o único restaurante com certificação “Slow food” nas Baleares. Lá, eles servem porções atualizadas de pratos locais como fideuá, uma versão da paella de frutos do mar com massa. Sobre o salão de jantar, um teto arqueado de pedra ostenta uma placa com o ano de 1704.